A história se passa num futuro onde a humanidade é rigidamente organizada num sistema de castas, previamente definidas em laboratórios. Os bebês são “cultivados” em série e condicionados desde cedo a gostar de suas funções e papeis na sociedade. Não existe mais conceito de família tradicional, e as relações afetivas profundas quase não existem, tudo pra manter a estabilidade e evitar conflitos. Desde a infância, cada pessoa recebe ensinamentos e estímulos repetitivos que moldam a forma de pensar e sentir, de acordo com a casta a que pertence. Assim, Alfas se tornam a elite intelectual, encarregada de tarefas complexas, enquanto Epsilons fazem o trabalho mais pesado, mas sem nunca reclamar, porque foram programados pra se satisfazer com sua realidade.
Alfas se tornam a elite intelectual, encarregada de tarefas complexas, enquanto Epsilons fazem o trabalho mais pesado
No dia a dia, qualquer desconforto ou ansiedade é amenizado pelo “soma”, uma droga que garante pequenas doses de felicidade instantânea. Com isso, as pessoas vivem imersas numa bolha de contentamento artificial, alheias a reflexões mais profundas sobre liberdade ou individualidade. Esse “admirável mundo novo” funciona como um mecanismo bem azeitado: o progresso tecnológico e o entretenimento constante alimentam a ideia de que a sociedade atingiu a perfeição. Entretanto, por trás desse verniz utópico, há uma sensação inquietante de que algo está faltando, a própria humanidade, no sentido mais íntimo da palavra.
Bernard Marx, um Alfa que se sente deslocado, começa a questionar a organização social. Ao contrário de seus pares, ele não se satisfaz totalmente com o soma e, mesmo sendo um homem de castas superiores, carrega uma pontinha de insegurança. Ele decide fazer uma viagem a uma “Reserva de Selvagens”, onde pessoas vivem fora do controle tecnológico. Lá, encontra Linda, uma mulher que tivera contato com a sociedade controlada, mas acabou ficando na reserva, e John, o filho dela, criado sem a maioria dos “avanços” desse mundo civilizado.
A presença de John causa um choque cultural quando Bernard o traz para Londres. John, acostumado a valores e tradições mais parecidas com as antigas sociedades (ele lê até Shakespeare, algo raríssimo naquela realidade), fica fascinado e ao mesmo tempo horrorizado pela forma como as pessoas são condicionadas. As relações sem profundidade, a falta de liberdade de escolha e o desprezo total pela dor e pela reflexão dão a ele a sensação de que essa civilização é vazia. Ao mesmo tempo, a sociedade o enxerga como uma curiosidade exótica: um “selvagem” que desperta interesse e entretenimento, mas não é levado a sério em suas críticas.
Com o tempo, Bernard e John entram em conflito com as autoridades, especialmente com Mustapha Mond, um dos Controladores Mundiais. Ele representa a ordem vigente e defende com unhas e dentes o sistema que garante estabilidade total. Mond explica que, pra manter esse modelo, foi preciso abrir mão de várias coisas: arte profunda, ciência livre de restrições e, principalmente, da liberdade individual. Essas concessões garantem a “paz”, mesmo que o preço seja uma sociedade que prefere o prazer superficial ao crescimento pessoal verdadeiro.
Para manter esse modelo, foi preciso abrir mão de várias coisas: arte profunda, ciência livre de restrições e, principalmente, da liberdade individual.
O confronto de John com Mond revela a tensão entre a busca por autonomia e a necessidade de harmonia social imposta. John, desesperado pra encontrar sentido na vida, rejeita o soma e tenta se isolar. Mas seu passado incomum e a curiosidade que desperta tornam impossível a fuga completa. Nessa luta interna, ele percebe que não existe lugar pra alguém que carrega valores tão distintos: no “admirável mundo novo”, não há espaço pra dor, e sem dor, a alegria verdadeira também perde sentido.
No desfecho, a tragédia de John serve de alerta: quando a liberdade individual é sacrificada em nome de uma suposta felicidade universal, corre-se o risco de perder aquilo que nos faz humanos, a capacidade de escolha, de amar e até de sofrer. A conclusão é tanto um grito de revolta contra a passividade artificial quanto um convite pra que cada leitor reflita sobre quanto de sua autonomia está disposto a ceder pela promessa de uma vida sem conflitos.
A série produzida pela NBC, criada por David Wiener, pega a famosa distopia de Aldous Huxley e a transporta pro mundo moderno, sem perder o clima de controle social e manipulação genética. Com um elenco de peso – Jessica Brown Findlay, Harry Lloyd, Alden Ehrenreich, Hannah John-Kamen e José Morgan –, a história ganha toques atualizados e convida a refletir sobre liberdade e identidade num futuro onde tudo parece perfeito, mas não é.

- Título original: Brave New World
- Título em português: Admirável Mundo Novo
- Autor: Aldous Huxley
- Editora (publicação original): Chatto & Windus
- Data de publicação: 1932
- Número de páginas: ~311 (pode variar entre edições)